quarta-feira, 11 de julho de 2007

EDITORIAL

(Ano I – Nº1 Quinta-feira, 23 de Outubro de 1969)


A vida da nossa região tinha sido normalmente assinalada por um sentimento de «bairrismo» acanhado, propício a ditirambos de circunstância, mas improfícuo, dissolvente e negativo.

Dentro deste espírito, falava-se muito de «rude nobreza» transmontana e do amor à terra (sobretudo quando se vivia longe, implorava-se, por vezes, a instalação dum Serviço público ou a construção dum edifício, armava-se em arco pela inauguração dum «chafariz»... e não se passava disto! A vida continuava fechada, no círculo das «capelinhas» e dos pretensos «arranjos geniais», em que esta localidade se opunha frenèticamente àquela e a vaidade dum senhor aos pergaminhos doutro, numa modorra medieval de tempo parado e de homens sem esperança. Enquanto o País, duma forma geral, se desenvolvia e ensaiava os ritmos de novo progresso, nós continuávamos desarticulados, feridos do sentimento duma importância crónica e encasulados no egoísmo dos nossos caprichos e na preferência de certos lugares.

Foi assim até acerca de 10 anos.
Então surgiu um homem, nado e vivido por estas nossas terras, conhecedor das suas potencialidades e do vigor adormecido das suas gentes, que, lançando a sua olhada pelos vastos horizontes, idealizou uma nova vida regional em termos de grandeza, prosperidade e entusiasmo.

Graças à sua persistência indómita, à sua inteligência brilhante e ao seu espírito de trabalho, a obra foi surgindo. Ao narcisismo particular, sucedeu a tarefa de conjunto e à «bucólica» exploração das «quintas», a estruturação dum vasto plano de articulação de todos os sectores económicos da vida transmontana. Agora já se não fala mais em termos desta ou daquela localidade. Agora só tem lugar e só pode pensar-se em termos de região: Trás-os-Montes e Alto Douro.

O exemplo deste Homem frutificou em nós. Procuramos segui-lo no seu entusiasmo, no seu amor ao terrunho, na concretização da grande Ideia. E daí, o nascimento deste jornal.

Ele surgiu como o arauto dos interesses da nossa região. Não é de Mirandela, de Bragança, de Chaves, de Vila Real ou da Régua. É de toda a vasta extensão transmontana e procurará constituir, aquém, Marão, uma atalaia preocupada e atenta, louvando o acerto, apontando o erro e erguendo a voz reivindicativa, conforme as circunstâncias.

Não está enfeudado a correntes políticas ou grupos de pressão. Nele têm assento e audiência todas as vozes e homens de boa vontade, sem segundas intenções ou ambiguidades. A única restriçãoque se pode pôr – e se põe – consiste em impedir tudo aquilo que possa lesar o interesse nacional. A Pátria acima de tudo.

Procurará vincar-se também, nesta nossa publicação, a ansiedade de justiça e de realização social, que informa a nossa época e ocupa profundamente o nosso espírito. Nas suas linhas gerais e aparte condicionalismos de lugar e tempo, parece-nos que o esclarecimento, discussão e concretização da chamada «doutrina social da Igreja» pode responder devidamente à nossa intranquilidade e aos nossos anseios. A dignidade do homem e a sua condição frente a Deus.

Quanto ao mérito ou demérito dos trabalhos, nada acrescentamos. Apenas anotaremos com D. Francisco Manuel de Melo: «Da infelicidade da composição, erros de escrita e outras imperfeições não há que dizer-vos: vós os vedes, vós os castigareis».

E assim iremos para a frente.

Anima-nos uma grande esperança e a certeza de correspondermos ao vivo desejo de todos os nossos conterrâneos.

Está em causa a nossa terra, na expressão autêntica de toda a sua grandeza geográfica, humana e cultural.

Que Deus nos ajude.

Rómulo Ribeiro

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